Na manhã desta quarta-feira (25), a Polícia Federal prendeu o piloto Roberval Andrade, bicampeão da Fórmula Truck e vencedor da Copa Truck, no decorrer de uma operação que investiga um esquema de corrupção e vazamento de informações confidenciais envolvendo agentes públicos e privados no estado de São Paulo.
Aos 54 anos, Andrade — que soma quatro conquistas ao longo de sua carreira automobilística e atualmente representa a AGS MotoSport, equipe da Mercedes-Benz — é suspeito de envolvimento em crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. Sua defesa, em nota, declarou que já solicitou ao Judiciário o acesso ao processo responsável por sua prisão, para apresentar manifestação em breve.
Além dele, os policiais civis Marcelo Marques de Souza, conhecido como “Marcelo Bombom”, e Sérgio Ricardo Ribeiro, apelidado de “Serginho Denarc”, também foram detidos. Segundo a PF, os envolvidos facilitavam a vida de investigados em inquéritos criminais, recebendo propina em troca dessas vantagens.
As investigações apontam que Bombom teria intermediado negociações entre o piloto e o advogado Anderson dos Santos Domingues, chamado de “DR”. A tratativa envolvia a liberação de um helicóptero, mediante o pagamento de R$ 700 mil. Conversas interceptadas indicam que o documento de liberação da aeronave dependia apenas da quitação do valor combinado.
Ainda conforme os investigadores, Bombom mantinha laços próximos com Sérgio Denarc, a quem recorria frequentemente para influenciar inquéritos e intimações. Em ao menos um episódio, tentou impedir a oitiva de um suspeito, caracterizando possível obstrução da Justiça.
A ofensiva da PF foi batizada de Operação Augusta e teve origem justamente em uma tentativa de reaver o helicóptero citado, que integra uma lista de bens vinculados ao esquema, podendo totalizar até R$ 12 milhões. Entre os delitos investigados estão falsificação de documentos para recuperação de bens apreendidos, acesso indevido a informações sigilosas e arquivamento irregular de procedimentos.
No total, foram autorizados três mandados de prisão preventiva e nove de busca e apreensão — cinco na capital, três na região metropolitana e um em Praia Grande. O Poder Judiciário paulista foi o responsável por expedir as ordens.
A ação foi coordenada com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) do Ministério Público de São Paulo, contando também com o suporte da Polícia Militar e da Corregedoria da Polícia Civil. Os investigados poderão responder por diversos crimes, incluindo corrupção ativa e passiva, violação de sigilo funcional, advocacia administrativa e quebra de sigilo bancário. As apurações seguem sob sigilo.
Conexão com a Operação Tacitus
A Operação Augusta também representa um desdobramento da Operação Tacitus, que, em 17 de dezembro de 2024, resultou na prisão de sete pessoas — entre elas, um delegado e três policiais civis. Na ocasião, foram mobilizados 130 agentes federais para cumprir oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão nas cidades de Bragança Paulista, Igaratá, Ubatuba e São Paulo.
A SSP informou, na época, que o objetivo era desarticular uma rede criminosa especializada em lavagem de dinheiro e corrupção dentro da administração pública. A operação surgiu a partir das investigações sobre a execução de Vinícius Gritzbach, delator assassinado no aeroporto de Guarulhos, em 8 de novembro.
Segundo a PF, o esquema envolvia venda de proteção a integrantes do PCC, adulteração de investigações e movimentações financeiras ilícitas. Gritzbach havia delatado todos os envolvidos na Tacitus, inclusive o delegado Fábio Baena Martin, que foi preso com os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, Rogério Felício, Marcelo Ruggieri, Marcelo Bombom e outras três pessoas: Ademir Andrade, Ahmed Hassan e Robinson Granger de Moura.
A defesa de Baena, por sua vez, expressou indignação, alegando que a prisão era desnecessária.
Fonte: CNN Brasil