A evolução humana na Europa ganhou um novo capítulo com a descoberta de ossos fossilizados em uma caverna no norte da Espanha. Encontrados em 2022, os fragmentos pertencem a uma população humana desconhecida que viveu há mais de 1,1 milhão de anos, conforme revelado por um estudo recente.
Esses fósseis foram localizados na caverna Sima del Elefante, situada nas Montanhas Atapuerca. Entre os vestígios, há um crânio parcialmente preservado, com o lado esquerdo do rosto de um hominídeo adulto. Estes ossos representam os mais antigos restos humanos já encontrados na Europa Ocidental.
Apesar da descoberta, não foi possível identificar imediatamente a espécie desses hominídeos. O estudo, publicado na revista Nature em 12 de março, ainda não oferece uma conclusão definitiva. A equipe de pesquisa acredita que os fósseis possam pertencer ao Homo erectus, uma espécie comumente encontrada na África e na Ásia, mas cuja presença na Europa nunca havia sido confirmada. “Esta é a interpretação mais provável com base nas evidências disponíveis”, afirmou María Martinón-Torres, diretora do Centro Nacional de Pesquisa em Evolução Humana (Cenieh), em uma entrevista coletiva.
Entretanto, ela também ressaltou a cautela dessa hipótese, deixando em aberto a possibilidade de que os fósseis pertençam a uma espécie diferente.
A região onde os fósseis foram encontrados tem grande importância para a paleoantropologia. Em meados dos anos 1990, cientistas descobriram o Homo antecessor a partir de esqueletos encontrados em um local próximo, o Gran Dolina. Esses fósseis, com cerca de 850.000 anos, representavam o humano arcaico mais antigo da Europa Ocidental, antes da chegada dos Neandertais. No entanto, Martinón-Torres afirmou que o crânio encontrado em 2022 apresenta características que não se alinham com o Homo antecessor, que possuía um rosto mais moderno e parecido com o de Homo sapiens. O novo fóssil, ao contrário, tem uma face mais projetada para frente, o que o aproxima de outros espécimes de Homo erectus.
A equipe também revisou uma mandíbula parcial encontrada em 2007 no mesmo sítio e acredita que ela pertença à mesma população de hominídeos. No entanto, como os fósseis são fragmentados, a identificação da espécie continua incerta. Por isso, os cientistas classificaram o hominídeo como Homo affinis erectus, indicando que é semelhante, mas distinto, do Homo erectus.
Chris Stringer, especialista em evolução humana no Museu de História Natural de Londres, afirmou que a descoberta é de grande importância. Ele observou que as características faciais do fóssil diferem do Homo antecessor e de Homo sapiens, e se assemelham mais aos fósseis de Homo erectus. Contudo, ele também concordou com a cautela da equipe quanto à classificação do fósseis.
Para analisar os fragmentos, os pesquisadores combinaram métodos tradicionais, como a comparação visual, com tecnologias de imagem e análise 3D. Embora não tenham datado diretamente os ossos, utilizaram três métodos distintos para estimar que os fósseis tenham entre 1,4 e 1,1 milhão de anos.
Além dos fósseis humanos, foram encontrados ossos de animais com marcas de ferramentas de pedra, indicando que essa população de hominídeos habitava um ambiente florestal rico em presas. A pesquisa oferece uma nova perspectiva sobre as populações humanas que viveram na Europa durante o período Pleistoceno.
Fonte: CNN Brasil